Não entendo nada de política.
Confesso. Pode bater, dizer que é meu dever e obrigação. Eu concordo, mas não
consigo me forçar a aprender algo que para mim é podre e não faz sentido (na prática,
no Brasil). Não estou acima do bem e do mal, nem sou dona da verdade. É apenas
minha opinião hoje.
Será que estou ficando velha... É
que algumas coisas estão me incomodando mais nos dias de hoje. Carnaval, funk
carioca... e eleições.
Já escrevi sobre isto antes, na
verdade “psicografei” uma letra que gosto muito (http://carolmerlino.blogspot.com.br/2010/08/cambalache.html)
Desta vez farei o mesmo, mas me
arrisco a tecer um pouco melhor minha motivação.
Há alguns dias, passando pela Av
Kennedy, em SCS-SP, notei um número acima do normal de placas de vereadores e
políticos. Em todas as casas há uma
placa no portão. No centro da avenida, em um espaço destinado ao lazer (pista
de corrida e bike), a cada 10 mts uma placa de propaganda. Um abuso. A cidade
está horrível. A Sra Regina Maura, a
mais forte concorrente, é campeã no quesito poluição visual e non-sense.
Me contaram que, no desfile do
campeão olímpico Arthur Zanetti pelas ruas da cidade, ela colocou um trio
elétrico atrás do carro de bombeiro e foi aproveitando o desfile do atleta para
fazer campanha, abanar suas bandeirinhas. Taca pedra gente, não deixa passar
uma oportunidade desta!!
Outro sinal de que estou ficando
velha: vários conhecidos se candidataram a vereador (risos... risos não,
gargalhadas). Agora vejam como estou chique: se eu procurar bem, devo ter
várias fotos com os futuros vereadores da minha cidade natal (no Pré 3, no
inglês, na festa italiana...).
Coincidentemente, o Glau estava
em Pernambuco a trabalho na semana passada. Aproveitou para visitar a família e pode conhecer pessoalmente um primo que
escreve cordel, o nome dele é Sandoval Ferreira. Trouxe um livro e um CD e,
escutando-o, tive uma grata surpresa.
Os textos são excelentes e não é
que tem um que se encaixa direitinho no que tenho pensado sobre meus “amigos” vereadores.
Demagogia de um político
De Sandoval Ferreira
Seu doutor fiquei honrado
Pelo convite de vosmicê
Porque não me candidato
Agora eu digo a você
É que esse mundo é ingrato
E ruim de se viver
Meu sossego vou perder
E também o meu dinheiro
Rodeado de babão
Puxa saco e trambiqueiro
Que vão querer me amolar
Até dentro do banheiro
O meu vexame primeiro
Quando a campanha chegar
Que eu partir para o povão
Pra querer me destacar
E não vai ser barato
O preço que eu vou pagar
Pra jogador eu vou dar
Bola, chuteira e meião.....
Pra quem tiver falecido
A mortalha e o caixão
Chorar em enterro de desconhecido
Deus me livre quero não
Tá no meio do povão
Nas festas de gafieira
Bêbo vem me abraçar
Com fedor de suvaqueira
Trocar voto por cachaça
E sorrir no meio da feira
Ter que aguentar besteira
De político vagabundo
Quando no palco subir
Levar dedada no fundo
Prometer para não cumprir
Dever a Deus e ao mundo
Não quero nem por um segundo
Esta vida aperreada
Se eu tiver mais de um voto
Vai ser de algum camarada
Me tornar vereador
Deus me livre, quero nada
É muito bom, parabéns Sandoval!
E para quem quiser saber mais
sobre Sandoval Ferreira:
Nasceu em 27 de fevereiro de
1983, em Iati, Pernambuco. Morou no sítio da zona rural chamado Aguazinha até
os 15 anos. Filho de pais pobres morava em uma casa sem energia onde a
principal atração à noite era ler, à luz do candieiro a gás, folhetos
(literatura de cordel). O pai reunia os vizinhos e seu irmão mais velho era
quem lia os folhetos. Depois, Sandoval passou a ler e aí despertou seu
interesse pela poesia.
Aos 15 mudou-se para o povoado
Bela Vista, zona rural da mesma cidade, onde fez muitos amigos e viveu por lá
até os 22 anos. Aos 18 fez uma apresentação de cordel em sua escola para o
Secretário de Educação de Pernambuco, sendo que todos gostaram e foi o que lhe
deu motivação para seguir em frente. Hoje, aos 26 anos, mora em Garanhuns,
Pernambuco. É técnico agrícola e cursa a faculdade de marketing. Possui 12
cordéis escritos.
Muito obrigado por postar o texto e me ajudar a divulgar a cultura popular grande abraço.
ResponderExcluirpoeta:sandoval Ferreira