WORK HARD AND PLAY HARD

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MACCA

No ano passado comprei um livro sobre psicologia do esporte que se chama “Em busca da Excelência” (Terry Orlick – Editora Artmed).
Não é o tipo de livro que eu consigo ler de cabo a rabo. Eu escolho capítulos para olhar de tempos em tempos, marco os pontos mais interessantes, que acabam sendo relidos mais tarde em consultas rápidas. Rápidas porque gosto de utilizá-lo como um guia espiritual: fecho os olhos, mentalizo a aflição e abro, acreditando que aquela mensagem foi customizada do Céu para euzinha na Terra.
Este mês, como parte da preparação para a próxima prova, incluí consultas regulares. Sabia que nele continha o depoimento de um atleta de Ironman, umas das primeiras partes do livro que li logo que o comprei. Só que IM não era minha praia e o Céu não havia recomendado muito aqueles trechos, então não memorizei o nome do “caboclo”. Agora que o assunto é de meu interesse, coloquei um marcador nestas páginas e como quem acorda de um sonho, me dei conta de que o depoimento é do Macca, vencedor de Kona deste ano. O livro é de 2006, quando ele APENAS tinha feito 2 provas de IM abaixo de 8hs e tinha sido vice no Havaí naquele ano (histórico de IM, porque ele veio de provas de sprint, ia super bem, etc).
Abaixo, trechos grifados por mim para consultas rápidas no trânsito, no lanche, no banheiro e em outros momentos de meditação. Conselhos que leio repetitivamente, com esperança de que sejam úteis e possíveis de serem lembrados, na alegria e na tristeza.

- Gosto de ficar na linha de largada e pensar: “Não há ninguém aqui que tenha feito um treinamento mais árduo do que eu”. “OK, temos oito horas de dor pela frente, mas ninguém aqui passou pelo que eu passei”. “Você está pronto, vamos, não esmoreça”. “OK, não há mais nada que eu pudesse ter feito para ficar mais pronto nesta fase, e fisicamente acho que sou o melhor do mundo.”
- A falta de autoconfiança é o que mata qualquer pessoa. Por isso, eu gosto de começar a prova sentindo que fiz tudo que podia para estar pronto para ela.
- (natação) (...) dou longas braçadas, como já fiz tantas vezes no treinamento. Só penso nisto.
- (...) antes da transição, eu começo a pensar na bicicleta. “Ok, onde está minha bicicleta?”. Eu imagino onde ela está.
- “Vamos lá! Agora você está em terra firme, é onde você é bom”.
- Na prova de 180 km, eu repito ciclos. Vou tomar um energético a cada 15 minutos. Quando você começa a contar calorias a prova passa rápido, porque você está pensando em pequenas etapas de cada vez, o tempo todo.
- No meu primeiro IM, eu me lembro de pensar: “Em que eu vou ficar pensando durante 8 horas e meia? Que coisa chata!”. E foi incrível como tudo passou tão rápido.
- Eu penso: “OK, pronto, disparar o relógio”. Agora vou correr, em 4 min, 1 Km. Já fiz isto um milhão de vezes no treinamento, eu sei que posso fazer isto confortavelmente, sei que não vou ter problemas.
- Eu nunca penso nos outros competidores quando faço um trecho ruim. Eu penso: “Como vou sair desta?”
- Não entro na prova com a expectativa de não ter nenhum trecho ruim. Isso vai acontecer.
- (quando se sente mal) O corpo se ajusta, e você sai daquilo. É impressionante. Quando você mostra ao seu corpo que você não vai parar, ele diz: “OK”, e volta a se comportar. Você tem que evitar ceder ao seu corpo, porque se o seu corpo sentir que sua mente está fraquejando e cedendo, ele desmorona!
- Se eu estou cansado, perdendo terreno, a primeira coisa que posso controlar é o combustível. “Vamos tomar um pouco de combustível, vamos beber alguma coisa, lubrificar as engrenagens. Talvez eu esteja usando uma engrenagem muito pesada. Descanse as costas”. Controle aquilo que você pode controlar e saia da tormenta.
- Quando me sinto bem, capitalizo esta sensação. Quando me sinto mal, lido com o problema. Estou preparado para perder tempo quando me sinto mal. Quando eu me sinto bem, ataco, estou correndo a minha prova.
- Você sabe que vai sofrer, que vai sentir dor, mas nesse momento, você já vai estar perto do final. É assim que eu penso. Quando a dor chega, é porque o dia já está terminando.
- (sobre ganhar no Havaí) (...) muitas pessoas “se mataram” tentando, e não se tornaram estrelas, mas eu as respeito mais do que aquele cara que compete pelo 5º lugar. Eu nunca faria isso. Prefiro morrer tentando do que nunca tentar. (...) É assim que eu penso. Agarre-me, se for capaz. Se você conseguir, parabéns!

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