"Voltei Recife,
foi a saudade que me trouxe pelo braço. Quero ver novamente vassouras na rua abafando, tomar umas e outras e cair no laço."
Há duas
semanas, estava na minha mesa com a cara “enfiada” no computador, quando uma
colega de trabalho apareceu, em pé ao me lado, imponente mas com uma cara
preocupada, me dizendo que tinha que me pedir um favorzão. Sabe quando a perna
amolece? Logo pensei “ai, lá vem bucha”. Pensei no pior. Nem respondi e ela
continuou – “preciso que você dê um treinamento para mim, minha equipe estará
toda ocupada, não temos quem vá e não dará para remarcar com o cliente”. Eu
disse “ah, é só isso.... quase morro do coração”. Ela – “pois é, mas o
treinamento é sábado, 14hs, em Recife (e ficou vermelha)”. Ok, “No problems, eu
vou”.
Escolhi mal o
voo de ida: saída de Congonhas sexta, no início da noite (meu raciocínio de
pelega foi “assim aproveito melhor o dia no escritório”). Aeroporto lotado,
check in idem fila do Playcenter. Voo cheio e com escala. Fiquei sem jantar e cheguei
1hora da manhã no hotel, alta madrugada para mim. O avião aterrissou, mas meu
mau humor continuou nas alturas.
Meu celular
não pegava, o quarto estava quente, eu estava sem voz (resquício de garganta
inflamada da última semana), sem poder ligar o ar condicionado (ou ele, ou
minha voz para o treinamento). Resumindo, um terrível astral.
Liguei para o
Glau para avisar que estava viva, ele perguntou: “E ai, tudo bem? O quarto é
bom?”. Eu disse: “Nãããããão, tudo mal, o quarto é horrível, etc”. Demorei para
dormi, lá pelas 2 da manhã.
Já tinha me
programado para fazer uma corridinha no sábado de manhã, levei roupa, tênis,
etc.
O relógio
despertou as 7hs e eu não quis levantar. Pensei “vou jogar tudo para o ar, que
correr que nada” e voltei a dormir. As 8h30, acordei novamente e me deu um
estalo: “agora vou correr!!!!! Agora estou bem para levantar.... MAS... se sair
para correr as 9hs, vou perder o café da manhã. Uma pena, vou voltar a dormir”.
Pensei mais um pouco... “estou deixando de correr por causa do café da manhã???
Será que está certo???”. Aí lembrei do Glaucus, que as vezes me dá bronca
dizendo “Carolina, pare com isto, você já passou fome alguma vez na sua
vida??”. Ele sempre me fala isto quando me vê preocupada com comida (quero
sempre esquematizar onde vou comer, o que vai ser... sou meio chata para comer
“bugiganga”, lanche, salgadinho). Este pensamento mexeu comigo. Levantei.
Dane-se o café da manhã, vou correr!!! Depois eu me viro pra tomar café em
algum lugar.
Sai já do
hotel, que estava a 1km da praia. Antes de chegar lá, passei pelo famoso
edifício Hollyday. Diminuí um pouco o passo. A arquitetura é realmente linda. A
precariedade também é notável. Este contraste chama atenção. Filosofei – tudo
tende ao caos.
Mais um pouco
e já estava na beira-mar da praia de Boa Viagem. Senti o ambiente melhor do que
a última vez que estive lá, mais bonito e seguro. E fui correndo, correndo....
um calor enorme, com 20min eu já estava suando em bicas. Tudo foi ficando mais
bonito, as coisas foram encaixando-se, fazendo mais sentido. Corri 10 km e na
volta, vi que tinha uma loja de conveniência e parei para resolver a pendência
do café da manhã. A atendente foi super simpática, perguntou da onde eu vinha,
emendamos um papo e depois de pagar, eu disse “tchau, boa sorte, eu nunca mais
vou te ver” – rsrsrsrsrs – ela respondeu com simpatia, mas eu saí da loja
achando que não devia ter dito isso... mas saiu tão espontâneo. Endorfina é
mesmo meio “chapante”.
Chegando no
hotel, tive a ideia de colocar mel no meu iogurte (sempre tem mel no café da
manhã). Fui para onde o café é servido e pedi um copinho de café, para pegar o
mel que ainda estava no buffet. A senhorinha que o desarrumava foi muito
prestativa, já me trouxe da cozinha o copo com mel.
Meu ponto é:
de repente, tudo estava lindo, feliz. Um cenário totalmente diferente do da
noite anterior. Tudo mudou? O lugar, as pessoas? Não, acho que EU MUDEI e o fiz
por causa da corrida. Não foi um treino fácil, o cansaço da viagem e o calor
estavam fortes, mas justamente por isto, eu tb fiquei mais forte para enfrentar
o resto do dia com otimismo.
Não tem jeito,
o esporte é minha pinga.
No final do
dia, fiquei “p” novamente: erraram o horário do meu voo de volta. Tive que
pagar a troca de passagem, além de chegar em casa 2 horas mais tarde do que o
previsto. Mas aí é outra história, que só resolvi no pedal de domingo.