(BIRTH REPORT - 2 meses depois.... demorou mas este
post saiu)
Miguel, meu passarinho. Nasceu e foi mais ou menos assim...
Eu estava esperando por ele, e ele veio no dia em que quis:
13 de agosto de 2013.
A previsão era dia 20. Eu achava que nasceria no dia 15,
após a virada da lua. Ouvi uma explicação racional para o fenômeno e coloquei
minha certeza na nossa linda e poética lua. Não que eu seja 100% racional, ninguém
é, principalmente no quesito maternidade. Mas a minha ansiedade em saber o dia
exato do nascimento foi enorme. Igual criança em viagem querendo saber a que
horas/minuto/segundo chegará ao destino final. Eu seria capaz de apelar para
gurus, revistinha do João Bidu, biscoitinho da sorte do China in Box... qualquer
coisa. Se promovessem um encontro com Dalai Lama, eu deixaria de lado as
questões da alma e perguntaria “que dia meu bebê nasce???”. Fiquei com a
questão martelando na mente 8 dias por semana , fingindo que levava uma vida
normal.
Trabalhei até dia 09 de agosto e, nos meus planos, teria até
dia 14/15 para descansar e ajustar os últimos detalhes (ainda faltavam algumas
coisas).
No sábado 10 de agosto, tive um leve sangramento. Sabia que era normal, liguei para o médico e
ele me disse para ficar atenta, mas que não era um sinal de parto imediato (o
sangramento pode acontecer até 7 dias antes do parto). No sábado ainda, comecei
a sentir cólicas, pareciam intestinais e logo as atribuí ao sushi que comi no
jantar do dia anterior (sim, consumi peixe cru durante a gravidez).
No domingo 11/ago, dia dos pais, o almoço foi em casa, eu já
não estava muito disposta para me locomover ou ir a restaurantes. Continuava
com a cólica, mas desta vez percebi que tinha um pico de dor, a cada 1 hora, 40
minutos, e que ela ficava intensa e passava rapidamente. Desconfiei, fui para o
hospital no final da tarde – sem dilatação.... o bebê não ia nascer. O médico
me disse que eram as tais contrações falsas.
A segunda 12/ago.
Fazendo uma analogia ao triathlon, foi o início de uma prova
longa. Imagine largar, mas sem saber exatamente se está valendo, se a prova
começou. Passei a manhã toda no sofá, com a tal da cólica. Não liguei para
ninguém até que tive uma leve diarréia perto da hora do almoço.
- “Dr Dutraaaaaa.....”.
- Bom, diarréia não é normal, ainda mais se vc comeu algo
que desconfia ter feito mal. Provavelmente está com algum desconforto
intestinal. Acompanhe o horário das dores e o sangramento – disse o Dr.
Espero mais um pouco, ainda com dores (ficando mais intensas,
ainda a cada 40 min/ 1 hora).
- “Libanoooooooo.....” (terapeuta alternativo com quem me
consulto, faz do in, acupuntura, entre outros trabalhos de orientação maravilhosos...
fiz um trabalho com ele bem bacana durante a gravidez).
- Agüenta, se não agüentar, venha aqui mais tarde.
O Glau chegou. Eu queria segurar a onda, ficar forte. Se
fosse cólica intestinal, não poderia tomar nada, além do que não queria ir
novamente para a maternidade e ser “alarme falso”. Mas as dores começaram a ficar mais fortes e
mais freqüentes.
10 horas da noite, fomos para a clínica do Líbano. Aperta
aqui, aperta ali..... já era meia noite passada... só a dor não passava.
- Não é intestino, seu bebê vai nascer. Você deve escolher
entre ir para o hospital agora, ou esperar amanhecer e ir cedinho....
Não sei bem o motivo, não me lembro, mas escolhi ir para
casa. Acho que “ir amanhã cedinho” soou melhor, mais seguro (ou inconscientemente
eu precisava de mais um tempo??). Chegando
em casa, sabendo que não dormiria, fui direto para o sofá da sala. Liguei a TV.
Deitei. Dor. A dor. PUTA dor. Não dava para respirar ou me mexer. O Glau
colocava a mão em mim, na intenção de me confortar, mas parece que doía mais.
- Glau... vamos para o hospital agora!
A partir daí, foi tudo muito rápido (e doloroso). Chegamos às
2hs da madrugada, o Miguel nasceu 4h32 (estes 2 minutos contam).
Cheguei com 6 de dilatação. Já fui para o quarto, Dr Dutra,
Líbano, Glau... todos lá. Exames, agulhas de acupuntura, dedadas (pois é)....” leva
para a sala de cirurgia”.
Eu treinei tantas técnicas de respiração na yoga... para
sabe lá fazer o que na hora. Também não cheguei a pensar no conselho de uma
amiga atleta: “é como na prova, vc sabe que no final vai doer, mas vai passar
quando cruzar a chegada... e vai ficar feliz por ter feito aquela força”. Pelo
menos não com esta clareza toda. Foi mais ou menos assim...
Primeiros momentos (eu comigo mesma): “a dor vai passar, a dor vai passar”
Momentos depois: “Caramba, dói muito... mas vai passar,
N.Sra... vai passar... Jesus... vai passar”.
Momentos finais: “Caral*&$# esta dor não vai passar??
Isto foi uma anestesia ou o que??? Pelamor o que estou fazendo aqui, porque não
marquei esta cesárea??”
Doeu muito, mas não me arrependo de ter optado pelo parto
normal, faria tudo de novo, foi ótimo para mim e para o bebê. A dor é intensa
mas passa, e a gente agüenta! É chavão, mas é verdade.Também é verdade que a
gente esquece os perrengues, a natureza é mesmo sábia.
Porque, chega um momento (e não é o da anestesia) que a dor
some, e você se dá conta de que Deus existe.
Não é modo de dizer, metáfora.
Quando o médico colocou o Miguel no meu peito, eu perdi o ar,
tudo girou, foi uma espécie de transe. Lembro que falei para o Glau “Olha como
ele é lindo” (frase que repito insistentemente para ele até hoje).
"Olha como ele é lindo"
Não foi aquele
“romance” de filme, era realmente o amor.
Lembro que fiz um “raio x” dele... vi cada detalhe, que era
bem peludinho, que tinha um calinho na boca, bigode, a proporção da cabeça e
corpinho, a expressão do rostinho, mãozinhas. Eu cheguei a assistir mais de uma
vez, grávida, a estes programas que mostram nascimentos. São emocionantes.
Também me preparei para este momento, imaginava como seria. Mas é um milhão de
vezes mais intenso. Ptza, eu poderia ficar escrevendo parágrafos e parágrafos, ainda
assim não conseguiria descrever. Descobri o verdadeiro sentido da palavra
indescritível (acho que em outros casos, a usei de preguiça), por isto vou
parar de tentar explicar.
Fiquei um tempinho em uma salinha “reservada”, por conta da
anestesia. O Miguel foi receber seus primeiros cuidados médicos. Quando a
enfermeira veio até mim e disse “vamos subir”, e colocou o Miguel embrulhadinho
na minha barriga/peito, eu não estava esperando. Foi outra explosão de amor.
Como pode? Esta coisinha estava dentro de mim! É ridículo, mas eu olhava para
ele assim, deitada, com cabeça meio erguida pra ver melhor... “estas mãozinhas,
pezinhos... ele estava dentro de mim”.
No quarto, por minha iniciativa, a primeira coisa foi oferecer-lhe
o peito. Ele imediatamente aceitou.
Daí em diante, foi só amor, cuidado, sono, cansaço e outras
coisas. Algumas já relatei nos posts anteriores e outras ainda renderão novos relatos.
Meu projeto de bebe-menino- homem feliz está só começando.